segunda-feira, 20 de julho de 2009

Os velhos demônios

Os velhos demônios estão de volta, chegaram ao cair da noite fria e escura, sem aviso, sem fazer barulho. Os olhos piscaram e ao voltar ao seu estado normal lá estavam eles, entrando afoitos no salão.

As lembranças dançaram entre as mesas e cadeiras e repousaram no colo daqueles que os conheciam. Os demônios continuam seu caminho, sem pausa, sem descanso e ao chegarem ao fim do salão, decidiram ficar. Esta decisão pesou como uma lâmina fria no coração daqueles que podiam ver as bestas.

Os fantasmas que habitam o local se entreolharam em desconfiança, sabiam que eram mais bem vindos entre aquelas paredes. As pessoas cientes tomaram em apenas um gole seco o resto do vinho em suas taças. E mal tiveram tempo de respirar quando perceberam que já estavam presas na conversa envolvente daqueles novos convidados. Com vozes macias e relatos interessantes sobre o resto do mundo, eles receberam convites para sentar, beber e comer.

Os antigos fantasmas recolheram suas experiências e memórias e deixaram o salão, não para sempre, eles sabiam que iriam voltar. Enquanto isso a festa dos demônios continuava, com uma música que ecoava pelas paredes, atingia a alma e controlava o espírito dos que ali estavam presentes. Eram bonitos e dançavam magnificamente. Um deles com um vestido vermelho rodopiava pela sala, amparado por outro de fraque branco, elegantes e majestosos. Sedutores...

As pessoas hipnotizadas observavam a cena, não agiam, não pensavam, não sentiam nada além do que viam, do que os demônios mostravam. Elas perderam suas individualidades, suas almas...

E a festa durou, o dia chegou e foi embora várias vezes. Os pratos ficaram vazios e voltaram a encher e diversas luas passaram por aquelas terras até que o vinho adquiriu um gosto amargo, não matava mais a sede dos insaciáveis demônios que ainda sugavam a carcaça das pessoas em busca de energia, vida, porém esta já era uma fonte estérea. Ávidos, sedentos, eles partiram, deixando destroços, corpos, vazio.

E muito tempo foi necessário para que do nada e de almas vazias fossem reconstruídas imagens pálidas de vida. E mais tempo ainda foi preciso para que as pessoas se reconhecessem e para que o vinho recobrasse o seu primeiro gosto, para que os sentidos retornassem, para que o desejo e a paixão aparecessem, primeiro em formas tímidas, depois em formas avassaladoras.

O tempo, porém também é cruel. E na medida em que passou e não encontrou as suas expectativas satisfeitas, minou as formas devastadoras da vontade, da vida. A amargura foi, então a primeira a encontrar o seu espaço. Lá estava de volta, o primeiro fantasma. A solidão chegou em seguida e as almas daquelas pessoas foram finalmente enterradas pela desesperança e lá permaneceram com os olhos fixos no tempo que não passava.

Um comentário:

  1. Os demônios são cativantes,
    Os fantasmas angustiantes,
    Quem sabe,
    Se as pessoas fossem mais...
    interessantes.
    Não nos perderiamos tanto?

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